Súplica de Um Velho Pastor

 


SÚPLICA DE UM VELHO PASTOR



Bendito Jesus, tu, que és o meu Salvador, aquele cuja palavra venho, todos estes anos, procurando interpretar pela pregação e pela vida, aceita a minha sincera gratidão por todas as bênçãos que derramaste sobre mim pessoalmente e sobre o meu ministério.

 

Recordo com gratidão os dias passados, mesmo os mais amargos e difíceis, porque foi neles que se acrisolou em mim o teu santo amor e senti, mais viva que sempre, a chama alentadora da tua presença. Nas augustas experiências do meu pastorado, em dias felizes ou em dias sombrios, encontrei o KABOLD do meu ministério, o Santo dos Santos no meu viver contigo e com os homens. Graça, honra e louvor sejam dedicados a ti, glorificado seja sempre o teu boníssimo Nome, Senhor meu e Deus meu, meu Salvador, meu Amigo!

 

Senhor, a minha alma te rende louvores e também te dirige súplicas neste dia. Os anos mais fortes e vigorosos do meu ministério se acham quase todos no passado, assim o creio. Os que me restam não serão tantos em relação aos que já se foram, suponho.

 

Rogo-te, pois, que, como fizeste até aqui, guies e norteies a vida do teu servo até o fim, dando-lhe luz para o caminho, graça abundante para o serviço, amor supremo para contigo e para com os homens.

 

Guarda-me dos perigos da velhice hoje, como me livraste dos perigos da mocidade nos dias que se foram.

 

O perigo de um espírito amargu­rado e ciumento.

 

O perigo das comparações injustas e cruéis.

 

O perigo de pensar mais nos erros dos homens do que na tua sublime perfeição.

 

O perigo de interpretar mal as atitudes dos colegas mais jovens.

 

O perigo do exagerado ressentimento pela ingratidão humana, a ponto de perder de vista Aquele que permanece fiel.

 

O perigo da falta de caridade nos meus conceitos e juízos.

 

O perigo de só ver males no presente e coisas boas no passado.

 

O perigo de prevenção contra os que, no ambiente da vida moderna, tomam diretrizes quiçá diferentes daquelas que eu tracei há trinta ou vinte anos anteriores.

 

O perigo da impaciência e dos juízos temerários e precipitados para com as levian­dades ou erros de colegas moços.

 

Dá que eu possa mirá-los pelo meu próprio espelho dos anos idos e que assim possa ver neles não só as falhas que afloram do temperamento, mas também as virtudes e qualidades que lhes alicerçam o caráter, e, destarte, eu lhes divise, através de fracassos maiores ou menores, as possibilidades de so­erguimento e restauração e o esplendor de uma vida vitoriosa. Que eu seja para com eles qual Barnabé para com Marcos.

 

Ainda te suplico, meu grande Amigo, que me cures da vaidade e do orgulho, que tanto têm estragado as vidas de muitos servos teus, velhos e moços. Dá-me o espírito do Batista, em se tratando da nova geração de ministros teus, que vai surgindo, e eu diga, ao contemplá-los: “Importa que eles cresçam e eu diminua”.

 

Se eu não puder construir o Templo que ideei, dá-me a nobreza de espírito e o entusiasmo de ajuntar o material com que o vai construir o meu sucessor. Não importa que eles edifiquem, em grande parte, sobre os alicerces que eu e outros fundamos, mas, longe de me enciumar por isto, reveste-me do espírito porque diz: “Eu plantei, Apoio regou; mas o crescimento, Deus o deu”.

 

Ainda que eu tenha de processar o meu ministério na sombra do anonimato, louvado seja o teu Santo Nome e engrandecida seja a Tua Causa, quer fique eu conhecido, quer não.

 

Em substituição a um espírito amargo, pessimista e ciumento, dá-me a perene mocidade de um santo e nobilitante entusiasmo pela Causa bendita.

 

Sejam por mim lembrados os dias percorridos, não para amarguras e comparações odiosas, senão para santas recordações dos teus tratos e relações comigo; para lembrar a amizade de teu povo nas igrejas; as vidas que foram encaminhadas para as fontes da salvação pelo fraco instrumento que é o teu fraco servo; os cultos solenes; as decisões de pecadores que, entre lágrimas e soluços, vieram aos teus pés; as conversões e os batismos; a música solene dos grandes dias; os cânticos altissonantes do santuário no Dia do Senhor; as orações que elevaram aos páramos celestiais os nossos corações alentados.

 

Ó Senhor, se tantos motivos há para uma doce e agradecida velhice, por que hei de andar sombrio e taciturno?

 

Oh! não, eu levantarei o meu coração até a tua augusta presença e minha alma rejubilará, e não verei motivos para amargura e displicência, vivendo nas altitudes espirituais em que tu me soergues!

 

Vai comigo, meu Senhor, meu Mestre e meu Amigo, até o fim da jornada. Dá que eu viva realmente na tua presença, e sinta, cada vez mais, cada dia mais, a realidade das palavras do teu grande servo:

 

Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia. -  II Coríntios 4:16. (ACF)

 

 

Autor: Pastor Almir Gonçalves. Fonte: FERREIRA, Ebenézer Soares. MANUAL DA IGREJA E DO OBREIRO. JUERP. 1981.

 



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