COMO AMENIZAR A MENSAGEM DO EVANGELHO
Uma descrição de como se produzir um evangelho que
não ofende, tornando-o mais aceitável e apetecível a pecadores que anseiam
amenizar a consciência e afagar suas mentes inconversas.
Imagem meramente ilustrativa. Porém, qualquer
semelhança parcial ou total, não será mera coincidência difícil de ser
encontrada nos dias de hoje!
O texto a seguir é um trecho de “Cartas e Documentos de Thomas Scott”. Thomas Scott (1747-1821), que foi um pregador do Evangelho bem equipado em demonstrar poderosamente qual é a diferença entre o verdadeiro Cristianismo e os seus falsos equivalentes dentro das falsas igrejas.
O pastor Scott era o filho de um
pecuarista de Lincolnshire na Inglaterra e décimo de treze filhos, ele próprio
estava destinado à pecuária quando decidiu optar pela ordenação ao ministério,
por considerar essa ocupação menos árdua.
Por fim, suas opiniões descuidadas e
liberais e sua vida não santificada foram pressionadas sobre ele – em grande
parte através dos esforços de John Newton – e pela graça de Deus ele se
arrependeu, foi convertido e rendeu sua vida aos pés do Salvador.
Como pastor, ele logo se tornou uma
grande força para o bem no país, e desde então tem sido lembrado por seu
trabalho incansável, cujos resultados incluem um Comentário que ele deixou sobre
toda a Bíblia.
David Cloud, certa vez, disse a
respeito desse trecho que envio abaixo: “Esta advertência feita por Thomas
Scott foi escrita há mais de 200 anos, mas perfeitamente descreve o
cristianismo contemporâneo do século 21”.
FAZENDO CESSAR A OFENSA DA CRUZ
Deixe de fora o caráter santo de Deus,
a excelência santa de sua lei, a condenação santa à qual os transgressores já
se encontram condenados, a beleza santa do caráter do Salvador, a natureza
santa da Redenção, a tendência santa da doutrina de Cristo e os temperamentos e
conduta santos devida a todos os verdadeiros crentes.
Então, vista a religião de um esquema
desse tipo, profano:
·
represente
a humanidade como estando em uma condição lamentável, mais por
infortúnio do que pelo crime do pecado;
·
fale
muito do amor e do sangue derramado de Cristo por eles, de Suas agonias no
jardim e na cruz; sem mostrar a necessidade ou a natureza da redenção pelo
pecado;
·
fale
de Sua glória no presente e de sua compaixão pelos pobres pecadores; da
generosidade com que Ele dispensa perdões; dos privilégios que os crentes
desfrutam aqui, e da felicidade e glória reservadas para eles no além;
·
não
complique isso com nada que apresente algo sobre a necessidade da
regeneração e da santificação e, além disso, represente a
santidade como algo diferente da conformidade com o caráter Santo de Deus e sua
lei;
·
e produza
um evangelho aceitável, calculado para amenizar o orgulho, acalmar as
consciências, envolver os corações e elevar as afeições dos homens naturais,
que não amam ninguém além de si mesmos[1].
E agora não é de se
admirar que este evangelho (que não tem nada
em si que venha afrontar, ofender ou ser desagradável, mas é
perfeitamente adequado ao pecador carnal e não humilhado, e o ajuda a aquietar
sua consciência, dispensar seus medos e encorajar suas esperanças) não
incorra em qualquer oposição entre pessoas ignorantes, que não
indagam sobre a razão das coisas; e encontre uma recepção calorosa e faça
números de supostos convertidos, que vivem e morrem tão cheios quanto podem
de alegria e confiança, sem quaisquer medos ou conflitos.
Seu sucesso talvez possa fazer com que
seja aclamado como “a única maneira de pregar com utilidade”: enquanto todo
discurso sobre o Ser, autoridade e as perfeições de Deus; sobre a lei; sobre o
mal do pecado; e sobre deveres relativos; é considerado apenas como “obstáculo
à utilidade”: e somente aqueles que pregam dessa maneira são considerados
pregadores do evangelho com simplicidade, como deveriam fazer. Que maravilha
se, quando toda a parte ofensiva é deixada de fora, o evangelho não ofender?
Que maravilha se, quando este tipo evangelho
feito e adequado para mentes carnais é apresentado, as
mentes carnais se apaixonam por ele? Que maravilha se, quando este evangelho
evidentemente calculado para encher a mente não renovada com falsa
confiança e alegria, tem esse efeito? Que maravilha se, quando o verdadeiro
caráter de Deus é desconhecido, e um falso caráter d’Ele é moldado na fantasia,
— um Deus todo amor e nenhuma justiça, muito afeiçoado a tais crentes, como Seus
favoritos, — esses tais têm afeições muito calorosas por esse tipo
falsificado de Deus? Que maravilha se, quando essas pessoas têm uma só
mente, e admiram e exaltam umas às outras como as únicas favoritas do céu, elas
parecem estar cheias de amor umas pelas outras?
Não é a imagem santa de Cristo nelas
que elas amam, mas sua própria imagem: e novamente eu observo, Similis
simili gaudet [semelhante ama semelhante][2].
As doutrinas deste evangelho não ofendem ninguém exceto alguns
pensadores profundos, se não fosse que, quando devidamente declaradas, elas
implicam a verdade afrontosa, que toda pessoa, ao pecar contra um Deus santo, e
quebrar uma lei justa, é de forma justa merecedora da condenação eterna, mesmo
que seu caráter seja na sociedade tão moral e respeitável; e que todos nós
somos poluídos e abomináveis, contrários a Deus, e repugnantes pelo pecado.
Suprima essa representação, e não há
nada afrontoso em qualquer doutrina restante, ou ofensivo a qualquer pessoa,
exceto àquele que raciocina, que vendo tanto feito sem nenhuma causa adequada,
pode exclamar com desdém, Cui bono? (Quem é bom?) [Qual é o propósito de responder
tudo isso?] — A maior parte da humanidade, no entanto, não pertence à classe
racional[3],
e estará sempre pronta para adotar quaisquer sentimentos que seu mestre possa
inculcar, que não alarmem seus medos, afrontem seu orgulho ou os conclame a
mortificar suas luxúrias: muito mais aqueles que acalmam seus medos, acalmam
seu orgulho, deixam suas corrupções intocadas e encontram nelas uma desculpa
para não subjugá-las. E, embora uma reforma externa possa geralmente ser
necessária; ainda assim, por causa de uma consciência tranquila, esperanças
otimistas e a autocomplacência, todos nós sabemos até onde os homens irão
proceder dessa maneira.
Eu não ofenderia desnecessariamente.
Que este assunto seja avaliado de acordo com sua importância. Que a palavra de
Deus seja examinada imparcialmente. Não posso deixar de confessar meus temores
de que Satanás tenha propagado muito dessa falsa religião, entre muitas classes
amplamente diferentes de mestres religiosos[4];
e ela brilha tão intensamente aos olhos de muitos, que ‘tomam tudo por ouro que
reluz’, que, a menos que a falácia seja detectada, ela promete ser a religião
predominante em muitos lugares.
Até onde posso julgar, nenhuma pessoa
no mundo expressa mais azedume contra esse tipo de cristianismo que despoja o
pecador de todos os argumentos e desculpas, o deixa autocondenado e com
autoaversão, como um transgressor de uma lei justa e um rebelde contra um Deus
santo, no escabelo da graça soberana; que mostra ao pecador a necessidade
absoluta que havia da morte de Cristo, a natureza real de sua satisfação, a
necessidade de uma mudança total de coração e vida[5];
e demonstra que todos os verdadeiros convertidos amam o caráter santo e a lei
de Deus, e são sinceramente santos em todos os tipos de conversação: nenhuma
pessoa, eu digo, é mais virulenta odiadora, e mais resoluta opositora, dessas
visões da religião, do que aquelas que são tão cheias de outras afeições, e
daquele tipo de religião acima descrita: o que mostra muito claramente como as
coisas são com elas.
Fonte: “Cartas e
Documentos de Thomas Scott”, para ver o texto original que aqui foi traduzido e
adaptado acesse o link http://www.covenantofgrace.com/scott_offence_of_cross_ceasing.htm. Todas
as citações bíblicas são da versão Almeida Corrigida e Fiel ao Texto Original,
publicada pela Sociedade Bíblia Trinitariana do Brasil. Traduzido e adaptado em
novembro de 2024. Revisão 00.
[1]
Nota
do Tradutor: O falso evangelho não constrange os pecadores ao arrependimento,
não os incomoda nem com os seus pecados e nem com a situação deplorável da
humanidade jazendo no maligno, não os faz considerar a necessidade de uma
solução que só DEUS pode realizar.
[2] N.T.:
Que descrição perfeita do atual falso evangelho da sede de autoestima
(egolatria), do “busque a Deus em seu próprio coração” (Jer. 17.9), amado por multidões
que criam um falso deus à sua própria imagem e semelhança, rejeitando o único e
verdadeiro DEUS que se revelou nas Sagradas Escrituras.
[3] N.T.:
Ver I Cor. 2:14 e II Cor. 4:4.
[4] N.T.:
Ver II Tim. 4:3
[5] N.T.:
O Novo Nascimento é um milagre, o maior de todos.
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